MULHER FOGO é meu quarto livro de poesias, talvez o que mais me revele, aquele que acessa com maior verdade e mais transparência minha existência de MULHER, mas não a mulher romântica que se espera de uma mulher poeta, mas a MULHER que enfrenta os desafios de SER em seu tempo tantas que tenho que ser...
Mulher filha, mulher mãe, mulher que foi esposa, que acreditou em príncipes, que acreditou em monstros, que conheceu príncipes, que conheceu monstros, que não fecha os olhos para todo um contexto social que faz de mim e de minhas irmãs (sororidade), bravas, lutadoras, e mesmo assim abusadas diariamente por uma sociedade patriarcal onde nossos direitos são menores e muitas vezes nossas lutas fracassadas perante todas as justiças.
Deixar um livro impresso no mundo, é antes de tudo, uma reflexão pessoal e um ato de cora- gem, sobretudo se é de poesia cuja obrigatoriedade com a ficção não existe
Por aqui, direi verdades. Se doer em quem lê, lembrem-se que, antes de tudo, doeu em mim. Doeu em mim por mim, pelas minhas heranças ancestrais, pelas mulheres cujas lutas acompanho, pelas estatísticas de violência, pelas maternidades solitárias, pela falta de apoio dos homens, pelos corações feridos pelas chances nulas de mudarem seus destinos
Em algumas vezes, estarei nas entrelinhas, noutras, nas constatações, mas em várias rasgarei o verbo e simplesmente deixarei que meus enfrentamentos venham à tona, pois eles são reais e os enfrento dia após dia.
Dedico este livro à Catarina que fui, questionadora, observadora, calando dúvidas sobre as relações familiares, as únicas que meus olhos acessavam e meu coração machucavam por não compreender se "casamento" fazia mesmo uma mulher feliz. Dedico à jovem Catarina que resolveu romper alguns padrões, costurar suas próprias roupas, pintar seus tênis e não aceitar futilidades em detrimento de cultura e pensamento. Dedico à adulta que fui (desta tenho pena, pois foi OBRIGADA a amadurecer muito jovem), e ser adulta não tem sido fácil. Dedico à Catarina de hoje, na luta, na garra, no peito, sendo mãe, sendo pai, sendo provedora total de um lar e de um filho, sendo profissional, livre, cheia de coisas para criar e fazer, extremamente exausta mas extremamente realizada no que faz.
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Dizem as boas línguas
Que tenho cabelos de fogo
E fogo nas ventas
Embora não saiba
Na anatomia
Onde ficaria
Em quais fendas
Os ventos e as ventas.
Mas sobre as lnguas Conheço
E com elas teço
Caminhos e palavras
Que queimam
Furacões, madrugadas
Nas muitas de mim
Bruxas e fadas!
Dizem as boas
Línguas
Que as línguas boas
Não sabem de nada.
Catarina Maul
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